A COALIZÃO
QUEM SOMOS
NA MÍDIA
O QUE FAZEMOS
ATUAÇÃO
NOTAS E POSICIONAMENTOS
PUBLICAÇÕES
MONITORAMENTO
NOTÍCIAS
Instagram - Coalizão em defesa do jornalismo
X - Coalizão em defesa do jornalismo
Linkedin - Coalizão em defesa do jornalismo
1.11.2024
Monitoramento

Última semana da campanha eleitoral tem pico de agressões contra jornalistas e veículos de comunicação

Compartilhar no Whatsapp
Compartilhar no Facebook
Compartilhar no Twitter
Compartilhar no Linkedin
Última semana da campanha eleitoral tem pico de agressões contra jornalistas e veículos de comunicação

Diminuição de conteúdos sobre eleição no segundo turno não representou menos violência

O número significativamente menor de candidaturas disputando o segundo turno das eleições municipais de 2024 provocou importante diminuição da quantidade de conteúdos sobre o tema circulando nas redes sociais. Apesar disso, houve um relevante aumento da violência contra a imprensa nesta última semana do segundo turno, com o registro de 2000 ofensas ao trabalho de jornalistas e meios de comunicação. O monitoramento foi realizado entre os dias 21 e 27 de outubro, décima e última semana da campanha eleitoral.

Foram monitoradas contas de candidatos à prefeitura das capitais brasileiras, de veículos de imprensa e de jornalistas nas plataformas X e Instagram, e de veículos jornalísticos no TikTok. Também foram monitorados 596 termos ofensivos nessas três redes sociais. Neste período, a plataforma X (antigo Twitter) registrou cerca de 200 ataques a mais do que na semana anterior – um crescimento importante. E, no Instagram, triplicou os números de ataques e ofensas contra jornalistas e veículos de comunicação.

 

Fonte: Labic/UFES

 

Das 2000 ofensas do período, 1264 foram registradas no Instagram. A grande maioria desses ataques foi direcionada ao perfil dos veículos de comunicação. A Rede Globo segue entre os destaques, com 254 ataques diretos nessa rede. Mas o epicentro dos ataques no segundo turno seguiu sendo Fortaleza (CE), onde ocorreu um segundo turno polarizado, com 290 das investidas direcionadas ao Diário do Nordeste.

No Instagram, as principais ofensas contra veículos indicavam a suspeita de benefícios econômicos orientando a cobertura jornalística. Expressões como “jornalismo parcial”, “jornalzinho comprado”, “matéria tendenciosa”, “mídia esquerdista”, “jornalistas militantes”, “fake news” reforçaram essa tendência. O termo “caiu o pix” tem sido usado com frequência para indicar, por meio do deboche, que o jornalismo desses veículos é vendido. Os jornalistas mais atacados foram Natuza Nery (73), Vera Magalhães (30), Demétrio Magnoli (11), Octávio Guedes (6) e Flávia Oliveira (4). Nem mesmo a ausência de perfil nessa rede impediu Demétrio Magnoli de ser o terceiro mais atacado.

 

Fonte: Labic/UFES

 

O número de ataques realizados na plataforma X foi bem menor que no Instagram, sendo contabilizadas 473 ofensas a jornalistas e veículos de imprensa. Por outro lado, é preocupante que o número de ataques tenha sido maior do que na semana anterior ao segundo turno, que contabilizou 273 postagens ofensivas à imprensa. Esse dado revela que o X voltou a ser um ambiente hostil ao jornalismo, retornando a padrões de toxicidade verificados antes da suspensão da plataforma, em 30 de agosto.

Diferentemente do Instagram, onde hashtags não tiveram muita relevância, mas sim as expressões, no X, o uso desse recurso continua sendo importante para alavancar os comentários. As críticas à Rede Globo permanecem predominantes, com o termo “lixo” associado à emissora continuando a ser frequente, mesmo com variações na grafia. Outras formas de ataques à Globo também estão presentes nas tags “#globosta”, “#globoeaquerdista”, “#globocorrupta” e até mesmo “#globoterrorista”. Além da Rede Globo, que recebeu 68 ofensas diretas, também foram atacados GloboNews (51), G1 (10) e Folha de S.Paulo (9). Também foram registradas 61 ofensas gerais ao jornalismo.

Entre os jornalistas, os mais atacados no X foram Guilherme Amado (135), Miriam Leitão (83), Blog do Noblat (36), Natuza Nery (24) e Gerson Camarotti (23). Desses, apenas Guilherme Amado, jornalista do Metrópoles, não pertence a veículos do Grupo Globo.  Chamou a atenção a expressão “jornazista” direcionada a jornalista Miriam Leitão no dia 26 de outubro. O comentário que continha essa expressão recebeu 57 curtidas. Leitão também foi a mais atacada em relação a xingamentos direcionados à Globo no contexto eleitoral.

No TikTok, houve o predomínio do termo “lixo”, com uma frequência de 84 menções, seguido pela expressão “globolixo”, que aparece 49 vezes. Esse dado sugere que, embora o termo “lixo” seja genérico, também se torna emblemático nas críticas contra a imprensa, especialmente à Globo. Essa expressão não só reforça a associação negativa à emissora, mas também atua como um marcador pejorativo para o conjunto da imprensa, estendendo-se, em alguns casos, para outros veículos. Outras expressões ofensivas foram “tendenciosa” e “suja”, e alguns agressores buscaram marcar a imprensa como parcial com “militante”, “vergonha” e “globe” – que faz alusão à linguagem neutra usada, sobretudo, pela esquerda. Os jornalistas mais atacados na plataforma foram Octávio Guedes (32), Andreia Sadi (17), Monica Waldvogel (17) e Júlia Duailibi (2). Já os veículos mais atacados nessa rede foram G1 (154), UOL (41), Folha de S.Paulo (14) e Metrópoles (2).

 

Fonte: Labic/UFES

 

Polarização e mudança de epicentro

No primeiro turno, a presença do candidato Pablo Marçal (PRTB) na disputa em São Paulo (SP) colocou a cidade no centro dos ataques e os apoiadores do candidato da direita protagonizaram o maior número de ofensas – embora muitos desses ataques tenham ganhado amplitude nacional. No segundo turno, por sua vez, a disputa entre Evandro Leitão (PT) e André Fernandes (PL), em Fortaleza, materializou o embate entre esquerda e direita, deslocando o epicentro dos ataques para o Nordeste do país.

Além do Diário do Nordeste, com 290 ofensas, também sofreram grande quantidade de ataques os veículos O Povo Online (39), Tribuna do Norte (32) e Rádio Itatiaia (32), que cobriam, respectivamente, o segundo turno nas capitais Fortaleza, Natal (RN) e Belo Horizonte (MG), onde as disputas também foram acirradas. Dessa forma, a cidade de Fortaleza manteve a tendência da semana anterior e se consolidou como a capital com o maior número de ataques à imprensa de modo geral, com 561. Mas foi seguida por São Paulo, onde foram contabilizadas 194 ofensas contra jornalistas,  seguida por Cuiabá (22), Belém (4) e Porto Alegre (3). Vale citar que, dos ataques, 88 foram direcionados à GloboNews e 36 à Rádio CBN.

 

Fonte: Labic/UFES

Os dados sobre os ataques por cidade foram contabilizados apenas no Instagram e Tiktok.

 

Misoginia e etarismo compõem quadro de ofensas

Embora a maior parte das ofensas proferidas contra jornalistas e veículos de imprensa tenha como pano de fundo uma crítica ao jornalismo, considerado em muitos comentários como “parcial”, “militante” ou “vendido”, ofensas diretamente relacionadas a padrões estéticos e de idade apontam misoginia e etarismo por parte dos agressores.

Durante participação ao vivo no programa “Viva Voz”, da Rádio CBN, a jornalista Vera Magalhães teve sua aparência questionada. “O maquiador está de férias?”, postou um perfil no Instagram. O jornalista Ricardo Noblat, por sua vez, recebe ofensas relacionadas à sua idade. “Tá ficando gagá, Mafalda?”, comentou um dos usuários do X.

Ataques da direita e da esquerda

A polarização e o acirramento da disputa em algumas capitais produziu um fenômeno interessante, que colocou a imprensa ora como alvo da direita, ora como alvo da esquerda. Durante o processo eleitoral, especialmente no monitoramento realizado no segundo turno, as ofensas vindas do campo progressista também foram relevantes, o que contraria algumas expectativas de que tais ataques são uma exclusividade da direita política.

Em Fortaleza, o Diário do Nordeste, O Povo Online e a GloboNews foram acusados, em mensagens e comentários de internautas, de favorecer o candidato de esquerda Evandro Leitão (PT). Expressões como “comprados”, “petistas” e “esquerdistas”, e o termo qualificador dos veículos como “jornalzinho”, foram frequentemente usados por apoiadores do candidato André Fernandes (PL), que finalizavam seus posts com o número 22.

Em Natal, por outro lado, muitos comentários no perfil de Instagram do Tribuna do Norte acusavam o jornal de beneficiar o candidato da direita, Paulinho Freire (União), em detrimento da candidata da esquerda, Natália Bonavides (PT). Entre as expressões estavam “jornalismo rasteiro e covarde”, “pseudojornalismo”, “jornalismo parcial” e “vergonha”.

Um evento de destaque ocorreu quando a jornalista Vera Magalhães, em programa ao vivo na Rádio CBN, criticava o aceite do candidato Guilherme Boulos (PSOL) em participar de sabatina promovida pelo derrotado Pablo Marçal (PRTB). Usuários utilizaram o apelido “Verinha” em tom de deboche para ofender a jornalista, além das expressões “jornalista parcial”, que vinha acompanhada de declaração de voto ao candidato do PSOL, e “jornalista militante”, em comentários postados por usuários do campo da direita.

 

Fonte: Labic/UFES

 

Fonte: Labic/UFES

 

Toxicidade das plataformas

A partir de um estudo feito em parceria com o ITS Rio, utilizando a ferramenta de API do Google, foi possível identificar, ao longo da semana, que a rede com maior média de toxicidade no período foi o TikTok. A ferramenta permite valorar, em uma escala de 0 a 1, qual o grau de toxicidade de uma mensagem encontrada online. Isso significa que, quanto mais próximo de 1, maiores são as chances daquele conteúdo ser percebido como tóxico pelos usuários. O TikTok tem se apresentado de forma consistente na frente do ranking da média calculada considerando todas as mensagens coletadas pelo monitoramento semanal, alcançando o valor de 0,38 na média, seguido pelo X com 0,34 e pelo Instagram com 0,22.

 

Fonte: Labic/UFES

 


Sobre o projeto

Este é o nono relatório de monitoramento de ataques online contra a imprensa nas eleições de 2024, que cobre a semana de campanha eleitoral de 21 a 27 de outubro. O projeto está sendo realizado em parceria com o Labic/UFES. A Coalizão em Defesa do Jornalismo monitora, desde o dia 15 de agosto, contas de jornalistas, meios de comunicação em 9 capitais do Brasil (Porto Velho/RO, Belém/PA, Fortaleza/CE, Maceió/AL, Cuiabá/MT, Rio de Janeiro/RJ, São Paulo/SP, Florianópolis/SC e Porto Alegre/RS) e de candidatos/as em todas as capitais, nas plataformas de redes sociais Instagram e X.

São registradas postagens com termos e hashtags ofensivas e estigmatizantes contra o trabalho da imprensa no âmbito da cobertura eleitoral. Episódios de ataques e violações ao trabalho da imprensa fora das redes também estão sendo acompanhados. A análise dos principais resultados do levantamento está sendo publicada toda semana, sendo esta a última. Haverá ainda um relatório consolidando a avaliação do período monitorado que trará recomendações às autoridades e plataformas digitais.

Integram a Coalizão em Defesa do Jornalismo: Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, Associação de Jornalismo Digital – Ajor, ARTIGO 19 Brasil e América do Sul, Committee to Protect Journalists, FENAJ – Federação Nacional dos Jornalistas, Instituto Palavra Aberta, Instituto Vladimir Herzog, Instituto Tornavoz, Intervozes, Jeduca: Associação de Jornalistas de Educação e Reporters Without Borders (RSF).

VeJA TAMBéM
X/Twitter volta à cena e Fortaleza vira epicentro de ataques online contra jornalistas
X/Twitter volta à cena e Fortaleza vira epicentro de ataques online contra jornalistas
Na semana de 14 a 20 de outubro, reta final do segundo turno, o monitoramento de ataques online contra a imprensa encontrou um total de 799 ofensas ao trabalho de jornalistas e meios de comunicação. Embora o número represente uma redução em relação ao registrado nas últimas semanas, duas tendências são destaque nesse período: o retorno do X/Twitter como principal plataforma de agressões a jornalistas e a inversão de centralidade dos ataques de São Paulo para Fortaleza.
SAIBA MAIS
Período eleitoral expõe agressões à imprensa de apoiadores da extrema direita
Período eleitoral expõe agressões à imprensa de apoiadores da extrema direita
Com o avançar do período eleitoral e a sequência de debates, entrevistas e inserções dos candidatos nos meios de comunicação, têm se multiplicado também ataques aos jornalistas que protagonizam as mediações ou tecem análises sobre as candidaturas. O destaque desta semana são as agressões realizadas por apoiadores de Pablo Marçal (PRTB), candidato à Prefeitura de São Paulo.
SAIBA MAIS
Monitoramento de ataques à imprensa no início do 2º turno confirma o TikTok como novo espaço de violência contra jornalistas e veículos
Monitoramento de ataques à imprensa no início do 2º turno confirma o TikTok como novo espaço de violência contra jornalistas e veículos
Embora com o fim do primeiro turno das eleições tenha diminuído o número de postagens sobre o contexto eleitoral, foi possível verificar que as práticas de ataques a jornalistas e veículos de comunicação utilizadas desde o início do período eleitoral se mantém. Foi o que mostrou o monitoramento de ataques on-line contra a imprensa realizado de 7 a 13 de outubro, nona semana de campanha. Neste período foram contabilizados 920 ataques nas plataformas monitoradas - X (antigo Twitter), Instagram e TikTok.
SAIBA MAIS
1º turno da eleição registra 44 mil ataques à imprensa nas redes sociais
1º turno da eleição registra 44 mil ataques à imprensa nas redes sociais
Balanço de monitoramento feito pela Coalizão em Defesa do Jornalismo aponta TikTok como a rede mais nociva para jornalistas após bloqueio do X
SAIBA MAIS
VEJA MAIS