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6.09.2024
Monitoramento

Ataques à imprensa se banalizam no início da campanha eleitoral de 2024 no Brasil

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Ataques à imprensa se banalizam no início da campanha eleitoral de 2024 no Brasil

O monitoramento das redes sociais nas duas primeiras semanas da campanha eleitoral brasileira de 2024 mostra um quadro de disseminação e banalização de ataques a jornalistas e meios de comunicação em todo o país. Somente na plataforma X (antes de seu bloqueio no Brasil), entre 15 de agosto, véspera do início da campanha, e 28 de agosto, mais de 30 mil postagens ofensivas ou associadas a discursos depreciativos contra a imprensa foram publicadas. O número corresponde a posts agressivos mencionando jornalistas e meios de comunicação e comentários feitos em seus perfis. Hashtags de ataque ao jornalismo publicadas em toda a rede também foram contabilizadas.

Num período marcado pelo início de sabatinas e entrevistas nos veículos, a análise demonstra um padrão de hostilidade especialmente direcionado aos meios de comunicação do Grupo Globo. A hashtag #globolixo, que ganhou capilaridade nas eleições presidenciais de 2022, apareceu em 3.876 posts. Outras ligadas ao grupo também foram registradas no período: #foraglobolixo (101 menções), #globosta (87), #globolixoooo (53), #globonewslixo (41) e #desligaaglobo (31).

 

Vale destacar as interações entre contas que postaram a #globolixo e outras de ataque ao trabalho da imprensa com hashtags do campo da política, como #forapt, #esquerdaimunda, #abaixocomunismo e #esquerdalha. Tais interações refletem uma narrativa que vincula a atuação jornalística a uma suposta defesa da esquerda e do Partido dos Trabalhadores (PT), sugerindo que alguns veículos estariam alinhados ideologicamente a esse espectro político.

A seguir, alguns exemplos de posts publicados dentro dessa lógica, nos marcos da cobertura eleitoral das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis:

“Pablo Marçal: O PT é uma facção criminosa. Daniela Lima: CANDIDATOOO Pablo da próxima vez pega mais leve para não deixar a Daniela Lima tão nervosa! Afinal falar mal do PT na Globo Lixo pode atrasar o PIX.”

“Gente não acredite em nada que esse gabinete da ousadia (Globo Lixo) fale contra os candidatos do Bolsonaro!! ALÔ Rio de Janeiro vamos de Ramagem. Lembre-se da covardia que fizeram contra ele no Governo Bolsonaro! querem um Rio seguro? RAMAGEM”

“Esse cara é o dono da Globolixo em SC o grupo NSC. Estão fechados com lula e os quadrilheiros. Não por acaso escondem e manipulam notícias desfavoráveis ao governo do ladrão mas não exitam em detonar políticos e apoiadores da direita.”

A hashtag #jornalixo apareceu 127 vezes, seguida por #vejalixo, com 87, e #cnnlixo, com 59.

Entre os perfis jornalísticos que receberam ataques diretos no X estão @globonews (1.487), @oglobopolitica (256) e @jornaloglobo (162) (pertencentes ambos ao jornal O Globo), @cnnbrasil (177), @veja (176) e @folha (115).

Já os/as jornalistas mais agredidos no X no período deste relatório foram Andreia Sadi (101), Daniela Lima (93), André Trigueiro (79) e Guga Chacra (61), todos do Grupo Globo.

 

Os principais agressores no X

Os usuários do X que mais utilizaram tags e termos de ataque à imprensa no período foram @lfsdogogo, @cesarcascos, @marco_cfn, @direitaBRAunida e @patriam777. Em suas descrições de perfis aparecem apoios ao ex-presidente Jair Bolsonaro e bandeiras do Brasil. Um dos perfis, de um militar na reserva, traz a foto de um treinamento de tiro. Outro fala da “Ditadura Socialulista da Toga” e exalta que a “direita conservadora está avançando no mundo onde há liberdade de escolha e não o maldito comunismo que destrói nações”. Os perfis dos agressores reforçam a análise de que, no espectro político-ideológico, os ataques à imprensa partem prioritariamente de pessoas que se consideram de direita.

 

Ataques à imprensa no Instagram

A análise feita nas publicações dos candidatos às eleições de 2024 no Instagram revela uma baixa quantidade de ataques diretos a jornalistas específicos ou meios de comunicação. Porém, há uma generalização do tratamento ofensivo à imprensa para gerar a autopromoção das candidaturas. Foram registrados na rede 90 postagens ofensivas ou estigmatizantes no período analisado.

O candidato à prefeitura de Porto Velho, Dr. Benedito Alves (Solidariedade) foi o único, entre os monitorados nas nove capitais abarcadas no levantamento, a direcionar críticas à imprensa. Ele fez isso em três de suas postagens, onde se diz vítima de “fake news”: “NÃO ACREDITE EM FAKE NEWS! Estão tentando nos derrubar a toda maneira”, declarou num post em que exibe prints de matérias jornalísticas. De acordo com o candidato, os veículos de comunicação estariam distorcendo informações para prejudicá-lo.

A abordagem, adotada por diferentes campanhas, reflete uma estratégia sutil de descredibilização da imprensa: mantém a ambiguidade ao evitar confrontos diretos, mas reforça a narrativa de perseguição para fortalecer sua imagem pública frente a seus eleitores.

Considerando os jornalistas atacados no Instagram, o comentarista político Reinaldo Azevedo foi alvo de comentários agressivos ao publicar uma matéria sobre uma pesquisa do Datafolha com os números dos candidatos à prefeitura de São Paulo, na qual citou o candidato Pablo Marçal (PRTB). Os internautas o chamaram de “bandido” e sugeriram que Reinaldo Azevedo não deveria expressar sua opinião: “Saudades de quando repórteres se manifestavam para informar, não para dar sua opinião”. Muitos associam a imagem de Reinaldo à esquerda como justificativa para atacá-lo.

O jornalista Ricardo Noblat também foi alvo de críticas no Instagram por sua postura profissional e em sua integridade pessoal. Em um comentário, Noblat foi descrito como “a escóri@ do jornalismo”. Em outros, foi chamado de “vovó Mafalda” e acusado de envergonhar sua família, além de ter sido chamado de “mal caráter” e “jornazista”.

Ataques fora das redes

Em Vilhena/RO, o jornalista Paulo Andreoli, do Rondônia ao Vivo, e o blog Entrelinhas receberam um ofício da Polícia Federal pedindo os nomes dos responsáveis por uma reportagem sobre o prefeito da cidade, o ex-delegado da PF, Flori Cordeiro de Miranda Junior, que busca a reeleição. Ele foi eleito pelo Podemos em 2022 tirando fotos com uma AR-15 nas mãos. A reportagem tratava da falta de quitação eleitoral, que poderia deixar o candidato fora do pleito, e o requerimento serviria para instruir uma investigação policial. Os jornalistas afirmam que o prefeito usou a PF para intimidar seu trabalho.

Em São Bernardo do Campo/SP, o repórter Artur Rodrigues, do Diário do Grande ABC, foi interpelado no dia 21 de agosto pelo vereador Paulo Chuchu (PL) sobre em quem votaria para a prefeitura. Rindo e mostrando sua pistola na cintura, o vereador ameaçou o jornalista, alertando-o para ter cuidado com o que responderia.

 


 

Sobre o projeto

Em parceria com o Labic/UFES, a Coalizão em Defesa do Jornalismo está monitorando, desde o dia 15 de agosto, contas de jornalistas, meios de comunicação e candidatos/as em 9 capitais do Brasil (Porto Velho/RO, Belém/PA, Fortaleza/CE, Maceió/AL, Cuiabá/MT, Rio de Janeiro/RJ, São Paulo/SP, Florianópolis/SC e Porto Alegre/RS), nas plataformas de redes sociais Instagram e X.

São registradas postagens com termos e hashtags ofensivas e estigmatizantes contra o trabalho da imprensa. Episódios de ataques e violações ao trabalho da imprensa fora das redes, no âmbito da cobertura eleitoral, também estão sendo acompanhados. A análise dos principais resultados do levantamento será publicada toda semana, até a realização do segundo turno. Ao final das eleições, um relatório consolidará a avaliação do período monitorado e trará recomendações às autoridades e plataformas digitais.

A Coalizão em Defesa do Jornalismo (CDJor) é uma articulação de 11 organizações da sociedade civil em defesa da liberdade de imprensa, tendo como principais temas de atuação: proteção e segurança de comunicadores e jornalistas, sustentabilidade do jornalismo e integridade do espaço informacional.

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