O número de canais monitorados nesta semana foi expandido, totalizando 868 no Instagram e 451 no X, além da inclusão dos 17 canais de meios de comunicação no TikTok. A quantidade de termos ofensivos foi ampliada, chegando a 596 nas três redes sociais e incluindo expressões mais sutis, como “Verinha” (referência à jornalista Vera Magalhães), “Mafalda” (usada para atacar o jornalista Ricardo Noblat) e “caiu o pix” (sugestão de suposta corrupção). O objetivo dos ataques segue o mesmo: estigmatizar jornalistas e veículos e descredibilizar o trabalho da imprensa na cobertura das eleições municipais.

Fonte: Labic/UFES

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A eleição à prefeitura de São Paulo dominou as redes nessa quarta semana devido à cadeirada desferida pelo candidato José Luiz Datena (PSDB) no também candidato Pablo Marçal (PRTB) durante um debate na TV Cultura, no dia 15 de setembro. Esse incidente violento gerou uma grande quantidade de postagens e comentários, incluindo a cobertura da agressão pela imprensa. Dois jornalistas se destacaram por terem sido alvos de ataques nesse período: Pedro Meletti, que apresentou uma Cronologia da Cadeirada na CNN, e Diego Sarza, do UOL, que se envolveu em uma discussão com Pablo Marçal enquanto cobria o debate da RedeTV!, realizado no dia 17 de setembro.
Meletti foi acusado por apoiadores de Marçal de fazer “jornalismo militante” e de tentar justificar a cadeirada. “Justificar agressão foi demais pro jornalismo militante”, “Jornalismo está de péssimo a pior” e “Jornalismo abre a boca sai merda” foram alguns dos comentários ofensivos recebidos por Meletti no perfil CNN Política no Instagram. O jornalista liderou a lista no período monitorado com 208 ataques, seguido por Sarza, com 168.
O repórter do UOL foi atacado depois de pedir uma declaração a Marçal quando ele chegava para o debate na RedeTV!. Ao reportar ao vivo a negativa do candidato em falar com a imprensa, Sarza foi interrompido por Marçal e os dois discutiram. Apoiadores do candidato criticaram a postura do jornalista no perfil do UOL no Instagram, chamando-o de “militante” e “parcial”.
Ainda no Instagram, reverberando os ataques a Meletti e Sarza, os perfis de veículos mais atacados foram os do UOL, com 451 comentários, o da CNN Política, com 194, e o da CNN Brasil, com 193. Termos como “mídia podre” e “jornalismo imparcial” e “imprensa vendida” foram usados para tachar esses veículos e também a imprensa de modo geral. Os comentários, como sempre, pesaram a mão no uso de termos ofensivos, assim como as hashtags. As mais usadas no período foram #ripjornalismo e #imprensahipocrita.

Fonte: Labic/UFES

Fonte: Labic/UFES
Também se observou no período a recorrência da palavra lixo associada a veículos de imprensa, como #bandlixo, #uollixo, #folhalixo e #tvculturalixo, como já acontece faz tempo com a Rede Globo. Aos já conhecidos “globolixo”, “globo tendenciosa” e “globosta”, os internautas acrescentaram “globe”, termo que poderia estar ligado, de forma debochada, ao uso de pronomes neutros muitas vezes associados a atores da esquerda e aos ditos “militantes”.
No TikTok, os veículos mais atacados foram Metrópoles, com 199 comentários, UOL, com 107, e Folha de S.Paulo, com 36. Alguns exemplos de comentários:
@andrefagundes746 – A mídia quer destruir Pablo marcal meu voto dele ! Armadilha mídia ! Mídia suja !
@vitor.bulhes5 – Folha de São Paulo é o pior portal de notícias do Brasil !! Só esquerdistas tóxicos e sensacionalistas e totalmente parcial para os que não os convém!!!
Outros ataques
Apesar de ter ocorrido um dia antes do período de monitoramento, em 11 de setembro, foi registrado o caso da jornalista Cláudia Carvalho, do portal ParlamentoPB. Depois de postar sobre propostas do candidato a vereador de João Pessoa Moisés Mota (Solidariedade) que envolvem criar o “maior parque pet do Brasil”, entre outras, Cláudia recebeu mensagens diretas do candidato insinuando que ela deveria estar trabalhando na “assessoria política de algum vereador”.
Em 16 de setembro, o repórter Bruno Martins, do Jornal Ouvidor, foi alvo de ameaça por telefone feita pelo vereador Marcos Felipe de Oliveira Barbosa (União Brasil), de Santa Isabel (SP), conhecido como Marcos Cannor. O vereador se irritou com uma reportagem do jornalista sobre um incêndio ocorrido em sua propriedade. Segundo Martins relatou no boletim de ocorrência registrado na polícia, Cannor teria ligado para ele e dito: “Espero que você esteja gravando isso, ou você arruma essa sua matéria, ou eu vou entubar em você”. Posteriormente, enviou mensagens de texto ao repórter, classificando o jornal como “lixo” e seus profissionais como “vermes”.

Fonte: Labic/UFES
Sobre o projeto
Este é o quarto relatório de monitoramento de ataques on-line contra a imprensa nas Eleições de 2024, que cobre a quarta semana de campanha eleitoral (12 a 18 de setembro). O projeto está sendo realizado em parceria com o Labic/UFES. A Coalizão em Defesa do Jornalismo está monitorando, desde o dia 15 de agosto, contas de jornalistas, meios de comunicação em 9 capitais do Brasil (Porto Velho/RO, Belém/PA, Fortaleza/CE, Maceió/AL, Cuiabá/MT, Rio de Janeiro/RJ, São Paulo/SP, Florianópolis/SC e Porto Alegre/RS) e de candidatos/as em todas as capitais, nas plataformas de redes sociais Instagram, X e, a partir deste relatório, TikTok.
São registradas postagens com termos e hashtags ofensivas e estigmatizantes contra o trabalho da imprensa no âmbito da cobertura eleitoral. Episódios de ataques e violações ao trabalho da imprensa fora das redes também estão sendo acompanhados. A análise dos principais resultados do levantamento será publicada toda semana, até a realização do segundo turno. Ao final das eleições, um relatório consolidará a avaliação do período monitorado e trará recomendações às autoridades e plataformas digitais.
Integram a Coalizão em Defesa do Jornalismo: Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), Ajor (Associação de Jornalismo Digital), Artigo 19, CPJ (Comitê para a Proteção de Jornalistas), Fenaj (Federação Nacional de Jornalistas), Instituto Palavra Aberta, Instituto Vladimir Herzog, Instituto Tornavoz, Intervozes, Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação) e RSF (Repórteres Sem Fronteiras).